quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015


Despedidas
 
Faz dez anos que não venho à minha cidade Diamantina. Hoje retorno com uma missão triste: enterrar minha mãe. Percebo que o único laço afetivo que ainda me ligava a essa cidade era ela. Meus irmãos vivem todos, como eu, em Belo Horizonte, há muitos anos. Acostumada à vida da cidade grande, a nossa história aqui me parece distante, fluida e amarelada como fotos antigas.
Mamãe gostava de pegar o álbum de família e, página por página, foto por foto, esmiuçar cada acontecimento, cada dia vivido, e puxava dali outros “causos” que não tinham sido registrados pela luz da câmera. Sinto-me distante de tudo o que deixei para trás. Não tenho saudades, mas meu peito encolhe e minhas costas parecem se curvar. É funda a tristeza. Despedir-me de mamãe é dar adeus a um pedaço de mim, da minha vida, de alguma alegria que senti há tempos.
Sento numa cadeira e olho para o teto. Vejo um furo no telhado. A luz do sol que vem dali me cega por uns instantes e me faz lembrar que, afinal, a vida em Diamantina foi leve, agraciada por invernos aquecidos à beira do fogão de lenha; pelas primaveras adocicadas dos pomares; pelos verões carnavalescos que traziam gente nova à cidade, quebrando a monotonia das ruas e vielas; pelos outonos parados e frios, aguardando a chegada de uma carta, uma notícia, um sinal de quem havia partido e não voltaria mais.
Tia Augusta, irmã de meu pai, também já falecido, senta-se ao meu lado e sussurra um convite para ir à casa dela depois do enterro. Lá encontro Joaquim. O casarão onde ele mora fica em frente ao dela. Fomos namorados na adolescência. Acho que ele nunca me perdoou por tê-lo deixado. Eu queria estudar e ele, casar. Na véspera da minha partida para Belo Horizonte, ele juntou três amigos e um senhor que tocava violão, e fizeram uma serenata para mim. Estremeci, mas já estava decidida. O namoro durou ainda algum tempo, mas não resistiu à distância.
A ternura em seus olhos me surpreende... Casou-se, mas ficou viúvo e tem três filhos. Monossílabos e silêncios permeiam nossa conversa. Meu irmão mais velho costuma dizer que sou muito dura. Talvez seja, mas não é a intenção. Nascer na cidade dos diamantes pode ter contribuído para a rigidez... É difícil conseguir ser diferente. É raro ser como eu gostaria. Preciso ser diferente? Algumas pessoas me dizem: para ser mais feliz. Se algum dia consegui ser leve, carinhosa e feliz, foi aqui em Diamantina, na casa da minha mãe, mas parece que agora tudo se foi com ela e se mistura com o vento frio do outono.


terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Sejam bem-vindos!

Ano Novo, Blog Novo! Uma das minhas metas para 2015 é voltar a escrever. Nem sempre tenho tempo para me dedicar à escrita porque acabo dando prioridade a outras coisas, mas, principalmente em momentos de crise, escrever é uma necessidade. Nesses dois longos anos em que abandonei meu blog antigo (Saber Cotidiano), descobri que sou uma artista e que preciso dar vazão à energia criativa que me ronda. Escrever faz parte desse processo de deixar a artista se manifestar. Dançar flamenco também, grande paixão da minha vida. Não me considero uma escritora, mas quero tentar ser. Reconheço que sou mais uma voz neste mundo louco em que todos querem falar e poucos sabem ouvir. Outra meta para 2015 e para sempre: ouvir mais, aprender mais, observar mais e escrever mais! A gente se fala...