segunda-feira, 14 de setembro de 2015


Poema de amor matutino
Francine Figueiredo

Amor todos querem
Amar poucos sabem
Dor todos sentem
Ninguém a abandona

Babel de sonhos desfeitos
E costurados nos travesseiros
De lágrimas e suores noturnos
A tarde tudo esquece

Em meio ao burburinho
Ouço o discurso baixinho
Da voz falsamente generosa
É um vampiro de cara nova

À tarde o coração aperta
À noite o espírito se aquieta
Mas é tudo fantasia
Que se desfaz na penumbra
Ao primeiro raio de luz dourada

É esta que me salva!
Ah, manhã mãezinha!
Foi você que me trouxe de volta
A menina, a mulher que maravilha!



terça-feira, 12 de maio de 2015


Pensamentos de fim

     Apago as luzes. Recolho-me em silêncio. A cama vazia, fria convida sonhos esquecidos, só lembrados quando você aparece, sério, sisudo, triste. Não, não podemos mais. Também estou triste. E a tristeza é funda, antiga mesmo. Vem da infância, passa pelo dia em que você me deixou num dos momentos mais difíceis da minha vida. Você selou nosso destino. Herança de Tristão e Isolda. Chega aos dias de hoje em que o destino nos mantém separados. Choro todos os dias. Não sei lidar com essa tristeza que tratei de sufocar para me proteger. Não tenho nenhum controle sobre ela.
     Vejo seu discreto sorriso na foto. Fico pensando no menino melancólico e frágil, que me pedia cuidados. Eu também precisava deles. Eu também sou frágil. Espaço de superficialidades. O que será de nós nesse mundo em que todos querem ser amados, mas ninguém está disposto a amar? 
     Tomo você em meus braços. Nosso abraço! O beijo que era só nosso. Seu corpo e seus olhos estendidos ao meu lado, entregues. Saudade que preenche o vazio de você. Melancólicos entardeceres diluem as dores. Mais uma madrugada chega. Apago as luzes. Recolho-me com pensamentos de fim.

sexta-feira, 27 de março de 2015



Fragilidade

Todo mundo tem a sua
O ponto fraco
O meu ponto fraco

Tristeza profunda convertida em choro
Sou menina de novo, frágil
Exposta a toda sorte de males 
Conscientes e inconscientes
De outros seres igualmente frágeis

Parece que de nada valeram
As histórias e experiências vividas
As dores e dificuldades superadas

A fragilidade simplesmente é
Ser maduro é aprender a ser frágil?
Quero negá-la, ignorá-la 
O que fará de mim uma mulher mais forte?

Sou o gatinho assustado que acaba de chegar na casa nova
Sou o choro da criança amada, pedindo colo
Sou menina órfã que vislumbra o nada

Sou mendigo em busca de uma tenda na noite chuvosa
Um lar que proteja do frio e do vento
Um abraço que faça esquecer a solidão de existir
Um amor que apague todo um passado de sofrimento

Quem dentro da sua própria fragilidade
Não se fará juiz para condenar a própria dor?
Quem dentro da sua própria fortaleza
Será piedoso o bastante para aceitar seu ponto fraco?

Um coração bondoso não permitirá que fique à deriva
A vontade me resgatará de cada naufrágio
O tempo lambendo as feridas

Um novo horizonte se abrirá depois da morte
A vida ressurgirá quando descobrir como
Fragilidade e fortaleza caminham entrelaçadas

sexta-feira, 20 de março de 2015


Para não dizer adeus

A solidão chega para todos.
Chegou para mim
Está com você agora
Mesmo tentando fugir dela
Confesso que sinto um alento

Porque sei que ainda estamos navegando no mesmo mar
Ainda que separados e distantes
Ainda que não troquemos um só olhar
Um só abraço, beijo ou carícia

Nossa separação me deixou perdida
O desejo forte de me reencontrar
Une-se à vontade sincera de que você também se encontre
Desta vez, cada um à sua maneira, a seu próprio ritmo e tempo
Dessemelhanças que ora revelam nossa frágil humanidade

As doces recordações preenchem meus dias cinzentos
Um rosto diferente aquece meu coração doído
Que quer muito ter esperanças
De dias azuis e tardes cor-de-rosa
Com direito a um violeta anoitecer

Suave nostalgia essa que me toma
Quando lembro amores antigos
Momentos felizes que se dissolveram na água límpida dos dias
Sua ausência quer me mostrar o quanto ter você me fazia dócil,
Feliz e gentil com a vida

Mas é fato que sua presença se tornará cada vez mais sutil
E verei seu rosto ao longe, encoberto de nuvens
As mesmas que levaram seus sonhos e os meus
De súbito tenho a impressão de que não rompemos
Só buscamos novos despertares

E quem vai saber do futuro?
Respiro novos ares
Deito em chão de terra
Deixo-me levar pelo transe
Estou em novos lugares

Para tentar me refazer
E revisitar um bem-estar esquecido
A solidão reconfortante de quem conquistou
O único e verdadeiro amor
Aquele que permite aceitar a mim mesma como eu sou

Por ser definitivo, não quero dizer adeus
Prefiro guardar na gaveta
Até breve, meu grande amor.

sexta-feira, 13 de março de 2015


Lapso

À luz do dia, vou a lugares que você não conhece
São os lugares meus, recentes ou antigos,
Visitados pelos meus pensamentos de você
Mas só porque são meus, não deixam de ser seus também
Ora visitados pelas minhas lembranças de nós

À noite, a solidão é maior
Tenho vontade de conversar com você
Como fazíamos quando o resto das horas era só nosso
Escrevo versos na tentativa de alcançá-lo
Sigo seus passos para ver se encontro com você de novo

Caminho perdida na escuridão da sua ausência
Minha vida parece ter-se tornado um filme preto e branco
Que só repete cenas amareladas de um passado que não volta
Sinto-me abatida e cansada de altos e baixos
Sonhos de futuro não me consolam a tristeza

Os dias e as noites passam devagar
Nesse hábito cotidiano de relembrar e reviver
E é neles que deposito esperanças de novas alegrias, beijos e festas
Dias e noites que sejam tão coloridos como os nossos foram
Se não é possível recuperar o que nunca tivemos
É hora de conquistar o que sempre almejamos.

quarta-feira, 11 de março de 2015



Solidão a dois


Caminhamos juntos até o alto da montanha
Vislumbramos paisagens mil de sonhos
Fizemos planos de conhecer vales e alcançar picos
Plantamos esperanças de mãos entrelaçadas
Apenas o céu nos observava, e nos esperava

Mas nos perdemos um do outro na descida
E quase sem perceber, já estávamos tomando rumos diversos
Soltamos as mãos, acreditando que, em algum momento,
Nossos passos se cruzariam novamente
O céu apenas nos observava

De repente, caí numa vala
Você não viu e não pode me socorrer
Fiquei ali, sozinha, por dias, a gritar seu nome
Você não ouviu de tão longe que estava
O céu já não nos esperava

Uma águia azul compadeceu-se da minha solidão
Agarrou-me com força pelos ombros
Voamos juntas e percorremos montanhas, vales e rios
Lembrei nossos sonhos de paisagens
O céu me carregava

terça-feira, 10 de março de 2015

Amor menino


Amor menino

Os novos amantes cheios de desejo
Abraçam-se jurando eterno amor
O beijo arde o coração, esquenta a pele
Arrepia a nuca e tudo o mais...

Eu te amo”, dizem com naturalidade vã
Como se o mundo fosse acabar ali, depois do gozo
A ânsia das palavras sufoca a alma
Por isso, elas saem livres, levianas.

Leviano é o amor menino
Que dança aos acordes da paixão
E se acredita maduro, experiente
Mas é novidade.

E o menino grande anseia pelo novo
Porque gosta de ser menino
Livre, descompromissado, imune à dor
Cego para o amor de verdade.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015


Despedidas
 
Faz dez anos que não venho à minha cidade Diamantina. Hoje retorno com uma missão triste: enterrar minha mãe. Percebo que o único laço afetivo que ainda me ligava a essa cidade era ela. Meus irmãos vivem todos, como eu, em Belo Horizonte, há muitos anos. Acostumada à vida da cidade grande, a nossa história aqui me parece distante, fluida e amarelada como fotos antigas.
Mamãe gostava de pegar o álbum de família e, página por página, foto por foto, esmiuçar cada acontecimento, cada dia vivido, e puxava dali outros “causos” que não tinham sido registrados pela luz da câmera. Sinto-me distante de tudo o que deixei para trás. Não tenho saudades, mas meu peito encolhe e minhas costas parecem se curvar. É funda a tristeza. Despedir-me de mamãe é dar adeus a um pedaço de mim, da minha vida, de alguma alegria que senti há tempos.
Sento numa cadeira e olho para o teto. Vejo um furo no telhado. A luz do sol que vem dali me cega por uns instantes e me faz lembrar que, afinal, a vida em Diamantina foi leve, agraciada por invernos aquecidos à beira do fogão de lenha; pelas primaveras adocicadas dos pomares; pelos verões carnavalescos que traziam gente nova à cidade, quebrando a monotonia das ruas e vielas; pelos outonos parados e frios, aguardando a chegada de uma carta, uma notícia, um sinal de quem havia partido e não voltaria mais.
Tia Augusta, irmã de meu pai, também já falecido, senta-se ao meu lado e sussurra um convite para ir à casa dela depois do enterro. Lá encontro Joaquim. O casarão onde ele mora fica em frente ao dela. Fomos namorados na adolescência. Acho que ele nunca me perdoou por tê-lo deixado. Eu queria estudar e ele, casar. Na véspera da minha partida para Belo Horizonte, ele juntou três amigos e um senhor que tocava violão, e fizeram uma serenata para mim. Estremeci, mas já estava decidida. O namoro durou ainda algum tempo, mas não resistiu à distância.
A ternura em seus olhos me surpreende... Casou-se, mas ficou viúvo e tem três filhos. Monossílabos e silêncios permeiam nossa conversa. Meu irmão mais velho costuma dizer que sou muito dura. Talvez seja, mas não é a intenção. Nascer na cidade dos diamantes pode ter contribuído para a rigidez... É difícil conseguir ser diferente. É raro ser como eu gostaria. Preciso ser diferente? Algumas pessoas me dizem: para ser mais feliz. Se algum dia consegui ser leve, carinhosa e feliz, foi aqui em Diamantina, na casa da minha mãe, mas parece que agora tudo se foi com ela e se mistura com o vento frio do outono.


terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Sejam bem-vindos!

Ano Novo, Blog Novo! Uma das minhas metas para 2015 é voltar a escrever. Nem sempre tenho tempo para me dedicar à escrita porque acabo dando prioridade a outras coisas, mas, principalmente em momentos de crise, escrever é uma necessidade. Nesses dois longos anos em que abandonei meu blog antigo (Saber Cotidiano), descobri que sou uma artista e que preciso dar vazão à energia criativa que me ronda. Escrever faz parte desse processo de deixar a artista se manifestar. Dançar flamenco também, grande paixão da minha vida. Não me considero uma escritora, mas quero tentar ser. Reconheço que sou mais uma voz neste mundo louco em que todos querem falar e poucos sabem ouvir. Outra meta para 2015 e para sempre: ouvir mais, aprender mais, observar mais e escrever mais! A gente se fala...